(Menina inconvencional entra num palco vazio, onde se encontra Freud, sentado, pernas cruzadas, papel e caneta na mão, pronto para a sessão)
Freud: Como se sente, Menina?
Menina: Acho que banal...
Freud: Banal? Não é a Menina aquela que todos apelidam de Louca?
Menina: Sou louca!
Freud: Está louca ao dizer que está louca, só pode ser!
Menina: Não,não pode! Sou literalmente louca!
Freud(impaciente): Insiste nessa ideia porquê?
Menina(também impaciente): Porque estou, de facto, louca!Sem juízo!
Freud: Veremos...(hesita) Qual considera o seu maior problema?
Menina: Complexos.
Freud: Isso totalmente humano é!
Menina(aterrorizada): Também possuo medo da imperfeição! Ela é tão feia! (esconde a cara)
Freud(aproximando-se e exortando): É feia de meter medo ao susto! (voltando a sentar-se) Diga-me...com a sua amiga Consciência, costuma dialogar?
Menina(com ar de enfado): Sim! E Muito! Não me larga!
Freud(curioso,ar perverso): E com o seu amigo intímo e inconsciente, o Id?
Menina(expressão de felicidade): Esse é de loucos!(diminui o tom de voz) Ao que parece só alguns o desejam como amigo...Há quem diga, os mais peneirentos, que nem sequer existe tal nos próprios...talvez seja vergonha (ar de lamento).Há quem diga que é o papão do juízo,e que não tem cabimento,(sorriso de conforto)por isso é o meu melhor amigo, em vez dos diamantes.
Freud(com ar de satisfação): Ele é muito humano,não é? ...Como a Menina!
(As duas personagens dão gargalhadas)
Menina: Exactamente! Precisamente!(diz ela com postura de satisfação)
Freud: Então e o Superego,como é que anda esse anjinho?
Menina(sacode o braço em sinal de desagrado):Esse é uma espiga,é amigo íntimo dos meus arquinimigos, os Padrões,essas coisas que não deixam o homem nem a mulher ver com olhos mas com vaidade.Não deixa ninguém fazer nada (cruza os braços).
Freud: Mas se a menina não o tivesse na Lista de Contactos seria uma psicopata,sabia? (pergunta inclinando-se para a frente)
Menina(expressão de tédio): Ya,Freud, sabia...
Freud: Ainda bem !(recuando)E sabia também que o Superego é também humano,não sabia?(inclina-se de novo)
Menina(voz grave,olhos semicerrados) Ya,Freud,ya...
Freud(expressando curiosidade): Diga-me o que a sua mente a manda fazer agora, precisamente?
Menina(levanta-se e põe-se de pé em cima da cadeira,eufórica): Apetece-me saltar e abanar a cabeça como se a pudesse desenroscar do corpo, trepar paredes, carpir, rir, gritar, mandar todos para o inferno, ser mais,ser menos! Fazer a maior festa sem festa da vida!...
Freud(atento): E seria capaz de realizar tudo isso?
Menina(subitamente): Agora!
Freud: Calma, isso é o seu amigo Id a influenciá-la para essas aventuras!(risos de Freud)
Menina(desce da cadeira,ar melancólico): Mas o vazio é grande...penoso...preto...nem sabe o que quer...
Freud(surpreso):Ah...Eis o seu amigo Ego/Consciência!
Menina(encolhida sobre si): Tenho vergonha,medo,a mancha preta é enorme! Os complexos,a raiva,o cansaço,o pesar de ficar só,a tela que fica para sempre branca,a não aceitação da humanidade,a ignorância,o exagerado optimismo/pessimismo...esses são os grandes matadores...Esses sim,tudo rasgam cá dentro,mas o Superego,o grande comparça dos mesmos...encobre-os...cobarde...
Freud(colocando os antebraços sobre os joelhos,direcionado-se à Menina): Já sei qual o seu problema!Não é nada de grave...(Menina petrificada,atenta)Não se assuste...o seu problema...é ser...humana.